segunda-feira, 7 de julho de 2008

Violência no namoro

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Comportamento. Uma série de estudos de uma equipa de psicólogas da Universidade do Minho mostra que a violência nas relações amorosas nos jovens entre os 15 e os 25 anos atinge níveis preocupantes e idênticos aos verificados entre os adultos. Um dos aspectos mais alarmantes é que essa violência é cada vez mais precoce e por vezes aceite como 'natural' pelos próprios, incluindo o sexo forçado Problema atinge o mesmo nível que entre os adultos Existe "tanta violência" no namoro entre jovens dos 15 aos 25 anos como no casamento: 25% já foram vítimas de violência na relação. Mas o "fenómeno é ainda mais preocupante" nas novas gerações, que começam a agredir-se cada vez mais cedo, no ensino secundário e profissional. Pior, chegam a tolerar a violência sexual, pois, para eles, "relações sexuais forçadas não são o mesmo que violação, nem sequer são crime". O alerta é de Carla Machado, coordenadora de um projecto nacional sobre este fenómeno.

Para esta investigadora da Universidade do Minho (UM), em Braga, a violência "não é coisa de adultos que desaparece com a mudança de geração". A resposta encontrou-a no seu estudo sobre "violência física e psicológica em namoro heterossexual" - o mais avançado de sete de uma ampla investigação que está a coordenar com as psicólogas Marlene Matos e Carla Martins sobre "violência nas relações de intimidade" em jovens dos 15 aos 25 anos.

Em co-autoria com a psicóloga Sónia Caridade, a psicoterapeuta identificou níveis de violência física e psicológica no namoro muito próximos dos encontrados num outro estudo desenvolvido em 2003, no Norte do País, junto de 2900 adultos, mas em contexto conjugal.

A percentagem de vítimas chega a ser a mesma: dos agora 4730 jovens dos ensinos secundário, profissional e universitário, e que abandonaram a escolaridade inquiridos em todo o País, 25 % foram vítimas, pelo menos uma vez, de um comportamento abusivo da parte do companheiro ou companheira.

Dessas vítimas, 20% sofreram violência emocional (insultos, ameaças, jogo psicológico e coerção) e 14% agressão física. Dos 4730 jovens, 30% admitiram ter agredido o parceiro, sendo 23% agressão física, 18% emocional e 3% física severa. Nesta amostra, 58% são raparigas e 42% são rapazes.

Mas, o mais "alarmante" para esta psicoterapeuta da Unidade de Consulta em Psicologia da Justiça da UM, na área da intervenção individual e em grupo com vítimas de crimes, é haver uma maior prevalência de maus tratos físicos severos na população mais jovem - ainda no secundário. Os rapazes são os que agridem com maior gravidade (sovas, murros e pontapés). Já na pequena violência, não há diferença de género e vale tudo, desde insultos, bofetadas, empurrões, puxões de cabelos e até ameaças.

"Em geral, vítimas e agressores não percebem que a violência não é aceitável." Muitos deles "toleram" e chegam a "desculpabilizar" a violência, sobretudo quando ela é menor.

"Só fez aquilo porque estava descontrolado, perdeu a cabeça" ou "o descontrolo é porque tem medo de a perder. Não é violência". São frases que Carla Machado e Sónia Caridade recolheram junto dos 49 jovens dos grupos de reflexão deste projecto, que foram constituídos depois da aplicação do questionário aos primeiros 4730.

Alguns afirmaram que "violência sexual no namoro não existe. Agora, relações sexuais forçadas, já são outra coisa". Ou até: "Se eles namoram, não acho que seja violência sexual." Alguns não vêem mal nos apalpões, toques contra a vontade da vítima e a pressão para ter relações sexuais, que estão longe de serem violação, algo que já consideram errado. O ciúme é tido como prova de amor. De resto, os níveis de violência física e psicológica no namoro são muito parecidos com os identificados nos outros países.|

Violência começa no namoro

14.11.05
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Engane-se quem pensa que a violência nas relações íntimas é coisa de casamento, com o homem a subjugar a mulher. As novas gerações provam o contrário e começam a agredir-se mutuamente já na adolescência. Chegam ao ponto de insultar, ameaçar e até esbofetear, o que constitui um alerta de risco para a violência marital. O problema está a ser alvo de estudo a nível nacional e, inclusive, uma psicóloga quer implementar um programa de prevenção nas escolas do País para diminuir estes comportamentos.


"Eles acham que dar uma bofetada é normal", diz a psicóloga Sónia Caridade, da Universidade do Minho (UM), em Braga, co-autora, com Carla Machado, do estudo nacional "Violência nas Relações Amorosas Comportamentos e Atitudes nos Jovens". No namoro, explica, as agressões são mútuas e a vítima interpreta esses actos "erradamente" como sendo de ciúme, minimizando o episódio, e crê que, com o casamento, as coisas vão mudar. "Geralmente, a violência intensifica-se", afirma.

Sónia Caridade constatou alguns destes aspectos, depois de ter inquirido cerca de três mil pessoas, entre os 15 e os 25 anos, abrangendo estudantes do ensino profissional, do secundário, população universitária e, por fim, jovens que abandonaram a escolaridade. Dos 685 indivíduos até à data analisados, na zona do Porto, a rondar os 19 anos, concluiu que os alunos do ensino profissional toleram mais a violência no namoro do que os que se encontram na universidade.

A maioria dos inquiridos afirma discordar da violência, mas os dados revelam que 24% deles recorrem ao abuso emocional e 22% chegam mesmo a praticar agressões físicas. Para além disso, 27% admitiram ter sido vítimas de pelo menos um acto abusivo durante o último ano, enquanto 33% confirmaram ter adoptado este tipo de condutas em relação ao parceiro. O abuso é mais tolerado pelo sexo masculino, mas diminui à medida que os estudantes avançam no seu percurso escolar. O que, segundo a psicóloga, se deve à "maior maturação decorrente da idade e aos desafios suscitados pela relação".

Para a psicóloga Susana Lucas, docente no Instituto Piaget, "a imaturidade e a falta de experiência, em conjunto com os esforços de querer assemelhar-se aos adultos para dominar e controlar, podem contribuir para a manifestação de comportamentos violentos para com os outros". Considera, por isso, que "a violência é um fenómeno cultural e é fundamental quebrar o elo geracional do pai que bate na mãe e do filho que vai bater na mulher".

Daí a necessidade de implementar o programa de prevenção, denominado "Dossier Intimidation", nas escolas do 2.º ciclo do Ensino Básico, em 2006. "Espera-se que o sujeito e toda a comunidade envolvente sejam capazes de detectar e/ou evitar situações potencialmente perigosas", explica. Os alunos deverão ser capazes de decidir quando não querem algo, sem que se desencadeiem sentimentos de culpa. Pretende-se identificar factores que caracterizem os adolescentes vítimas e perpetradores de violência, e elaborar um plano de medidas de intervenção comunitária.

Namoros de adultos. No caso dos namorados em idade adulta, a psicoterapeuta Marlene Matos, da Unidade de Consulta em Psicologia da Justiça e Reinserção Social, da UM, diz que a agressão é semelhante à que ocorre nas relações maritais. "O agressor recorre às mesmas estratégias de vitimação, ou seja, à violência psicológica e às tentativas de controlo social da vida da vítima", explica. Seguem- -se depois as ofensas físicas e os abusos sexuais.

Algumas mulheres acabam por sofrer tanto como as que já estão casadas, diferenciando-se apenas pela inexistência do vínculo do matrimónio e de filhos. Mas a ocorrência da violência no namoro deveria representar "um sinal de alarme" para as mulheres. Tanto que, nas suas consultas na UM, algumas vítimas de violência marital recordam ter tido elevada conflituosidade e maus tratos verbais na fase de namoro.

Tal como no casamento, explica Marlene Matos, também no namoro "o medo da mulher é um aliado do agressor". O receio de perseguições e retaliações acaba por levá-la a render-se ao domínio do namorado, o que muitas vezes a impede de reagir mais cedo.

No caso de "Maria", as constantes bofetadas e pontapés acabaram por levá-la a procurar apoio, apesar de não ter apresentado queixa na polícia. O namorado, de 21 anos, foi a uma sessão e depois o psicólogo perdeu-lhe o rasto. "Manuel", chamemos-lhe assim, identificou--se como sendo a vítima, acusando-a de o "deixar inseguro, agredir verbalmente e ser injusta" na relação. "Ela retribui o amor que tenho por ela acusando-me de várias coisas. É ingrata porque diz que me vai deixar e descontrolo-me", conta.

Para o "José", licenciado, foi diferente aconselhou a "Vera" a ir à consulta, "porque achava que ela tinha um problema", mas ela abandonou-o porque ele "lhe controlava os movimentos e batia". Para saber o que se passava, José fez-se passar por utente e apresentou-se como o namorado "daquela que tinha problemas". Não negou as agressões físicas à namorada, mas disse "perder o controlo porque ela era muito ciumenta".

Para o psicólogo Rui Abrunhosa, da UM, os agressores podem melhorar a atitude face à mulher. Mas, para isso, esta precisa de de-senvolver "estratégias para ser capaz de perceber quando ele está a pisar o risco".

Universitários violentos no namoro

Abuso físico entre jovens casais universitários é cada vez mais frequente. Rapazes e raparigas são igualmente vítimas e agressores.

Os estudos publicados sobre a temática "violência no namoro" datam de 2003 e 2004, mas são representativos da realidade actual. Cerca de 16% dos jovens universitários com relações amorosas admitiram ter sido vítimas de um acto abusivo e 22% admitiram ter adoptado esse acto sobre o parceiro.

O tipo de violência mais frequente é a chamada "violência menor" (um empurrão, uma bofetada), enquanto que a violência física mais grave é a menos frequente (4%).

Dos inquéritos realizados para estes estudos conclui-se que não há diferenças de géneros, ou seja os rapazes e as raparigas são igualmente vítimas e agressores. Mas enquanto que os rapazes são violentos por causa do ciúme, do amor e das "provocações" femininas, as raparigas são-no por causa do ciúme, do amor e da intimidação dos namorados.

As vítimas normalmente não pedem ajuda às instituições de apoio e só 9% recorre aos tribunais. Quando pedem ajuda, preferem os amigos (67%) e as mães (17%).

Estes dados constam do "Violência no Namoro: Prevalências e Intervenção em Portugal", da autoria de Carla Machado, investigadora do Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho (UM). A amostra foi constituída por 500 estudantes da UM, seleccionados aleatoriamente entre os cursos que têm mais representação de mulheres e de homens.

O estudo está agora a ser alargado a nível nacional, em outras universidades públicas, escolas secundárias e escolas profissionais, no âmbito da tese de doutoramento de uma professora da U.M. Apesar de ainda não estar concluído, mostra já uma taxa de 20% de casos de violência entre jovens casais universitários do Porto.

Para evitar comportamentos violentos, "precisamos disponibilizar nas escolas (que é onde estão os jovens) informação sobre estas matérias e sobre locais para onde se possam dirigir, porque não há serviços especializados para jovens", disse Carla Machado ao JPN. "Era fundamental falar destes temas e disponibilizar informação sobre esta matéria para estas pessoas poderem pedir ajuda", conclui.

Ana Sofia Coelho

domingo, 6 de julho de 2008

O psicopata entre nós

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Sociopatas: dissimulados, mentirosos, trapaceiros e sem nenhum sentimento de culpa Veículo: Zero Hora
Seção: Vida
Data: 16/09/2006
Estado: RS

Em maio de 1999, o pescador Paulo Sérgio Guimarães da Silva aterrorizou a polícia ao relatar detalhes sórdidos de como tinha matado quatro casais na praia do Cassino e outras cinco pessoas. Contou, sem esboçar culpa ou pena, que depois de matar, esperava a polícia chegar ao local do crime para ver o que as pessoas iriam comentar. Em uma das ocasiões, chegou a dizer alto, entre policiais e curiosos que se acotovelam para ver o corpo do casal estendido nos molhes da praia: "Vai ver, o assassino está por aqui".
Ao ser examinado pela psiquiatra do Instituto Psiquiátrico Forense (IPF) Lisieux Elaine de Borba Telles, após o depoimento prestado à polícia, Paulo Sérgio tinha apenas uma preocupação: queria saber se estava bem na foto publicada nos jornais.
Vaidade, ausência de remorso e juízo moral, desobediência a regras e a longa carreira de delitos e crimes do pescador levaram ao diagnóstico: psicopatia, um transtorno anti-social de personalidade (Tasp) que está presente entre 20% e 70% dos presidiários, segundo o psiquiatra forense Paulo Oscar Teitelbaum.
Esse transtorno de personalidade, porém, não é exclusivo de assassinos. Pelo contrário, sua faceta mais comum circula entre nós. Está nos escritórios, em festas e em famílias como a de dona Maria* (leia o depoimento na página ao lado). Seu filho, Marcos*, não bebe nem fuma e tem uma ficha criminal tão limpa como a de um padre. Em compensação, não pára em emprego, certa vez roubou dinheiro de um tio, foi expulso do quartel após desafiar autoridades e não esboça remorso dos constrangimentos que causa à família. Hoje, aos 28 anos, passa os dias inteiros em casa, jogando videogame. Maria cortou a mesada para frear os gastos. Entrega a ele, no máximo, R$ 10, usados para comprar revistas pornográficas.
Na psiquiatria, Marcos é definido como um psicopata parasitário. Sua conduta não é agressiva como a do assassino da praia do Cassino, mas é igualmente nociva, capaz de destruir famílias e levar empresas à falência. O pior é o prognóstico. A psicopatia, que atinge de 1% a 3% da população, não tem cura.

*Os nomes foram trocados a pedido da entrevistada, para preservar a identidade de sua família

Como eles são

O psicólogo canadense Robert Hare, da Universidade da Columbia Britânica, criou um check-list de pontuação para psicopatia, conhecida como Escala Hare PCL-R (Psychopathy Checklist Revised, em inglês). A tabela foi traduzida e validada em 2000 no Brasil pela psiquiatra forense Hilda Morana.

Entre os sintomas, Hare listou:

Charme superficial /loquacidade
Superestima
Busca por estimulação e tendência ao tédio
Mentira patológica
Manipulação e chantagem
Ausência de remorso ou culpa
Insensibilidade afetiva e emocional
Indiferença e falta de empatia com os outros
Estilo de vida parasitário
Descontroles comportamentais
Promiscuidade sexual
Problemas graves de comportamento na infância
Ausência de metas realistas a longo prazo
Impulsividade
Irresponsabilidade
Incapacidade de arcar com as conseqüências pelos seus próprios atos
Casamentos ou relacionamentos de curta duração
Delinqüência juvenil
Violação de liberdade condicional
Versatilidade criminal

"Seu filho é portador de transtorno anti-social"

"Quando eu aventei a possibilidade de o meu filho ser um psicopata, o terapeuta ficou muito bravo comigo. Falava que o problema era devido a uma baixa auto-estima, que meu filho se sentia rejeitado por ter sido adotado. Eu era a bruxa da história”.
Como ele não comparecia mais à escola, resolvemos matriculá-lo em um curso supletivo. Arrumamos um trabalho para ele, mas ele mentia muito, fazia armações, colocando uns contra os outros, e ficou apenas três meses. Se eu disser que tivemos um dia de paz, estarei mentindo.
Ele foi fazer o serviço militar, e a única coisa que conseguiu foi ficar preso, pois não aceitava as regras e ameaçava seus superiores. Nessa época, ele comprou um apartamento. Como conseguiu, não sabemos. Lógico que ficou sem o imóvel por falta de pagamento - eles conseguem coisas como qualquer mortal.
Depois, foi passar um tempo com os tios. Foi nesse momento que passamos por uma das maiores vergonhas de nossas vidas: ele roubou dinheiro do tio. Nunca soubemos o que ele fez com a quantia roubada.
Lendo uma reportagem, eu fiquei conhecendo uma renomada psiquiatra. O que ela falava era o que ocorria com meu filho. Entrei em contato, marcamos uma consulta com ela, que nos deu o diagnóstico: “Seu filho é portador de transtorno anti-social. Ele é um sociopata”.
Eu chorei pela confirmação daquilo que já suspeitava. Ela nos disse que ele não tinha culpa por ter nascido assim nem nós tínhamos culpa de nada. Eu chorei mais ainda, choro até hoje, porque as cobranças dos familiares eram imensas. Cansei de ouvir que não sabíamos educar filhos, que ele era um safado, sem vergonha e outros adjetivos pejorativos.
Isto ainda ocorre. É muito difícil para as pessoas entenderem. Foi duro, mas pelo menos agora sabemos que a culpa não nos cabia.
Ele começou a namorar, e, mesmo eu alertando a menina, ela engravidou. Não restou alternativa a não ser submetê-lo a vasectomia. O casamento (eles se casaram) durou dois anos e alguns meses. Tiveram uma filha linda, mas hoje estão separados.
Ele trabalhou, conseguiu abrir conta em bancos, passou vários cheques sem fundos. Alguns deles, o pai cobriu, depois não deu mais. Até empréstimo em banco ele conseguiu fazer.
Tentar compreender a mente de um psicopata é uma tarefa impossível. Eles parecem ser atormentados, devem ter algum tipo de sofrimento pela sua condição, já que vivem num vazio enorme. Fazem sofrer os que deles se aproximam, mas agem com enorme indiferença diante do sofrimento que causam.
Se servir de consolo, aconselharia a quem está diante de um indivíduo envolvente, que conta altos papos, que adora tudo do bom e do melhor, mas que nunca tem um centavo no bolso, que sempre encontra uma desculpa para tudo de errado que faz - a culpa é sempre dos outros -, que não pára em nenhum serviço, a fugir enquanto é tempo.
Jamais saberemos precisar quando esta bomba irá explodir. O melhor é se manter longe dessas garras nocivas. Enquanto estivermos vivos faremos tudo para que ele não caia na criminalidade. Depois, só Deus."

Maria*, mãe de Marcos*, 28 anos

São como pessoas normais

Os transtornos da personalidade ocorrem por defeito na formação das funções cerebrais que regem o processo da sociabilidade, explica Hilda Morana, psiquiatra perita do Instituto de Medicina e Criminologia do Estado de São Paulo.
- Os sujeitos com defeitos nessas funções vivem para satisfazer suas próprias necessidades - diz Hilda.
Sob o ponto de vista intelectual, os psicopatas são como as pessoas normais: não têm qualquer prejuízo de suas capacidades de discernimento. Sabem que os outros não vão aceitar o que ele faz e lutam para preservar suas mentiras. Por isso, são dissimulados.
- Eles são cínicos, manipuladores, incapazes de manter uma relação e de amar. Eles mentem sem qualquer vergonha, roubam, abusam, trapaceiam, negligenciam suas famílias e parentes e colocam em risco suas vidas e a de outras pessoas - elenca o neurocientista Renato Sabbatini.
O pesquisador canadense Robert Hare, um dos maiores especialistas em psicopatia, os caracteriza como "predadores intra-espécies que usam charme, manipulação, intimidação e violência". É assim que eles conseguem ganhar a confiança de um colega ou de um parente para pedir um empréstimo ou um favor. Se a pessoa oferecer obstáculos, é capaz de cometer crueldades ímpares, alerta a psiquiatra Hilda Morana.

O que se sabe

- Comportamentos associados às relações sociais são controlados pela parte do cérebro chamado lobo frontal. Lesões ou baixa atividade neural nesta área são a gênese das personalidades antissociais
- O neurologista e autor do O Erro de Descartes, Antonio Damasio, sustenta que pessoas com danos no lobo frontal são incapazes de ativar marcadores somáticos (alterações na freqüência cardíaca e respiração, dilatação das pupilas, sudorese, expressão facial) em resposta à punição

Difícil tratamento

A psicopatia começa na infância ou na adolescência e continua na vida adulta. O diagnóstico é possível, porém, só a partir dos 18 anos, porque até essa idade a personalidade ainda está se sedimentando, afirma o psiquiatra Paulo Oscar Teitelbaum. Crianças com comportamento psicopático são aparentemente imunes à punição dos pais e não são afetados pela dor. Os mais violentos mostram uma história de torturas a pequenos animais, vandalismo, mentiras sistemáticas, roubo, agressões a colegas da escola, desafio à autoridade e fugas.
- Eles costumam ser mais precoces ao iniciar a vida sexual e quebrar regras - afirma a psiquiatra Lisieux Elaine de Borba Telles.
A psicopatia não tem cura, e muitos especialistas acreditam que nem tratamento é possível. Terapia pressupõe que o paciente consiga estabelecer vínculos, uma relação de confiança no médico e fale a verdade. Os psicopatas não conseguem fazer nada disso, atesta o diretor do Instituto Psiquiátrico Forense, Rogério Göttert Cardoso.
Hilda Morana afirma que é viável tratar alguns aspectos com medicamentos e terapia. Mas alerta: estes tratamentos não transformam a personalidade do sujeito, mas rompem padrões de relação e de conduta.